O que nos liga ao lugar é uma série que se imprime no corpo, ecoa na memória e projeta-se no espaço. Este trabalho nasce de uma escuta sensível ao território da casa de família, não apenas enquanto estrutura arquitetónica, mas enquanto arquivo afetivo, espaço habitado pela lembrança, pela ausência e pela presença reencontrada. Através da performance e da fotografia, construo um objeto artístico autoral que procura refletir sobre a forma como o corpo inscreve-se nos lugares da memória e como esses mesmos lugares devolvem ao corpo histórias, sensações e afetos. 

Mais do que uma análise descritiva ou técnica, este projeto assume-se como uma travessia sensível por espaços que habitam a infância, por móveis e objetos que já não guardam apenas funções práticas, mas vestígios de uma vivência. Ao regressar à casa onde cresci, proponho um exercício de escavação emocional, ativando camadas do tempo através de atos performáticos íntimos e silenciosos, capturados por uma lente que é extensão do próprio corpo. 

A linguagem da performance site-specific, aliada à fotografia vernacular, é explorada como modo de reinscrever o passado no presente. A experiência sensorial, o cheiro do baú, a luz filtrada pela janela, o toque do chão conhecido, transforma-se num gesto artístico. O corpo torna-se um arquivo vivo, como propõe Rebecca Schneider (Performing remains: art and war in times of theatrical reenactment. Routledge, 2011), carregando marcas, ausências e cria um tempo espesso, onde o passado se dobra sobre o agora. 

Próximo
Próximo

Manhãs, 26 de Fevereiro 2025 | O que nos liga ao lugar