Caríssimo Luís Montenegro,

Felizmente os Maias é literatura obrigatória na escolaridade. Remete-nos para a sátira que Portugal é Lisboa e o resto é paisagem. Não se esqueça, no entanto, que essa "paisagem" é o pulmão que respira. "talvez discreta"??!!! Palavras suas. Com milhares de hectares ardidos e biodiversidade em chamas qual será a qualidade do ar que compra? Sim, porque consigo é só falar em cifrões. Talvez dessa forma acorde e não se perca entre oceanos. Refiro ainda que não se esqueça, que tudo que vai parar ao oceano, onde se gosta de banhar, começa na Serra. Talvez o medo não seja o uso de máscara por motivos covidários, mas por falta de qualidade de ar. Se fosse assim temia pela sua saúde física já que a do povo parece passar -lhe ao lado. Desabafo de uma jovem que migrou de volta para a sua terra. Agora reflete que nem aqui há uma possibilidade de sobreviver. Somente no exterior onde há uma valorização. Como é que não se quer um país envelhecido? Digo-lhe ainda mais, não tem a ver com somente considerar e punir o crime de quem iniciou o fogo, mas perceber o porquê. Porquê o abandono dos terrenos, o lobby dos eucaliptos, o empobrecimento dos nossos ecossistemas, a subida das temperaturas! Ja não há pessoas no campo, já não há Vida que habite as nossas florestas, que mantenha as nossas terras. Não são empresas que o devem fazer. São políticas de apoio, ao longo de ano, como prevenção e não como cura. Porque cura para o Verde é de anos e prevenção deveria ser contínua. Que voltem as ovelhas e cabras para o pasto, que volte a comunidade local para as suas tradições de agricultura, que haja apoio para repovoar o interior. O litoral não sobrevive em Solo nem sem solo. Ah sim, porque Lisboa vai deixar de estar na moda. O turismo cresce no interior, nas montanhas, nas aldeias de xisto e da Vida que esta atrai milhares de estrangeiros. Como é? Assim , talvez tenha a sua atenção? Sem turismo de natureza não há um Portugal para visitar, só para abastecer. Talvez Bordalo II deveria ter comunicado - "vende-se Portugal". Mas como Lisboa é somente Portugal e o resto é paisagem fica aqui a fenda da nossa doença que é coletiva. Mais um ano, não faz mal, certo?  

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Caríssima humanidade,